A festa
Segundo a professora Rúbia Lóssio, coordenadora do Centro de Estudos Folclóricos Mário Souto Maior, da Fundação Joaquim Nabuco, em Pernambuco, os povos pagãos da Europa, Ásia e África aproveitavam o mês de junho para festejar os seus deuses da fertilidade, tanto da terra quanto do homem. Aproveitando o verão no hemisfério norte, os trabalhadores rurais faziam oferendas aos deuses para agradecer a abundância na colheita. "As festas pagãs foram se tornando tradição ao longo dos séculos", aponta a estudiosa.
Santo Antônio, São João e São Pedro
Ao longo da Idade Média, a Igreja Católica se apropriou deste período de celebração pagã para transformá-lo em uma data festiva no calendário cristão. Para manter a linha da fertilidade, foi escolhido Santo Antônio, o casamenteiro, como alvo da comemoração.
O ciclo joanino, no entanto, já começa a ser comemorado no dia 19 de março, que marca o início da colheita do milho. "Oficialmente, começam os festejos no Dia de Santo Antônio, 13 de junho, um dia após o Dia dos Namorados, passando pelo Dia de São João, 24, e termina no dia de São Pedro, 29 de junho", narra Rúbia Losso.
Abrasileirando
Muito popular em Portugal e nos países católicos, o ciclo joanino desembarcou no Brasil e ganhou força no século XIX com a colheita das plantações de milho. "A cultura popular é dinâmica e constantemente incorpora novos elementos em suas manifestações. Esse dinamismo traz motivação, envolvimento da comunidade e novos elementos", aponta a pedagoga Nereide Schilaro Santa Rosa, autora do livro "Festas e tradições", parte da coleção Arte e Raízes.
No Brasil, algumas características foram incorporadas, como as fogueiras e os balões. "Eles eram acesos para enviar mensagens entre as aldeias. Essa era a forma de homenagear os santos católicos, já que a luz era fundamental em um mundo onde a escuridão era natural", narra a escritora.
Quadrilha e brincadeiras
A quadrilha era uma brincadeira de quintal. "O povo vai sempre satirizar o seu cotidiano nos momentos de lazer. O Bumba-meu-boi, por exemplo, é uma sátira ao dono da fazenda, um protesto lúdico contra as instituições. Até o casamento caipira é uma sátira aos casamentos tradicionais da Casa Grande", explica Rúbia.
A dança teve origem nas danças palacianas das cortes europeias. "Inclusive é comum o uso de palavras francesas aportuguesadas como o ‘anarriê' na condução da coreografia", ressalta Nereide. As pessoas costumam se vestir de "caipira", como uma referência ao típico morador do interior do Brasil, resultado da mistura de brancos com indígenas. "Associa-se o uso de fogos a uma lenda que diz que os santos estariam dormindo e, com os estampidos, despertariam", continua ela.
Culinária
O melhor das comemorações juninas é, sem dúvida, a comida. O amendoim e o milho são os ingredientes principais. "As festas estão diretamente vinculadas ao início da colheita do milho e é nesse alimento que se baseia toda a culinária", aponta Nereide. O coco também aparece em muitas das receitas por se tratar de um alimento barato, o que favorecia os banquetes populares.
Ritmos
No Norte e no Nordeste do Brasil, a quadrilha se abrasileirou de vez ao incorporar as influências indígena e africana. Já no sul do país, vem da tradição castelhana. Os ritmos populares entre os trabalhadores rurais embalavam a celebração.
"O forró, por exemplo, era uma música similar à polca dos camponeses europeus que acabou incorporando os instrumentos da cultura indígena e negra. Era a música for all (em inglês quer dizer "para todos"). Além dele, surgiram baião, xaxado, coco, xote e outros ritmos conhecidos como arrasta-pés", conta Rúbia. "Nas regiões sulistas de nosso país, dança-se o pau-de-fita ou dança da fita, de origem europeia", completa Nereide.
2 comentários:
Oi ;)
Ficou super legal seu post sobre a origem das festas juninas.
Legal amiga! Bjks
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